03/03/2020

Exercícios Espirituais em Ariccia: a surpresa é a marca de Deus

por vaticannews

É a vocação o tema da segunda meditação dos Exercícios Espirituais da Cúria Romana que estão sendo realizados em Ariccia e, da Casa Santa Marta, seguidos pelo Papa Francisco que se resguarda por causa de um resfriado. A vocação, disse o pregador Pe. Pietro Bovati, “é sempre uma escolha que nasce do coração do indivíduo” […]

É a vocação o tema da segunda meditação dos Exercícios Espirituais da Cúria Romana que estão sendo realizados em Ariccia e, da Casa Santa Marta, seguidos pelo Papa Francisco que se resguarda por causa de um resfriado. A vocação, disse o pregador Pe. Pietro Bovati, “é sempre uma escolha que nasce do coração do indivíduo” e não alguma coisa “que se determina de maneira coletiva”.

Michele Raviart, Andressa Collet – Cidade do Vaticano

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A vocação é “o encontro decisivo com o qual Deus falou com a gente” e pelo qual decidimos obedecer a sua escolha. É o início de uma “nova história”, de um “novo nascimento”, através do qual se criam novas paternidades e novas fraternidades. É, então, necessário recordar o momento em que se viveu quando se obedeceu e “ouvir de novo a voz do Senhor”, naquele que é o significado definitivo da oração.

Deus chama na vida concreta

Na segunda meditação desta segunda-feira (2) nos Exercícios Espirituais da Cúria Romana, que acontecem em Ariccia, o sacerdote jesuíta Pietro Bovati, teólogo da Pontifícia Comissão Bíblica, parte da figura de Moisés para explicar o que significa ser chamado. Moisés é um pastor e é um servo. Não tem a consciência que vai passar a se ocupar do rebanho do seu sogro à condução do rebanho do povo de Israel. “Às vezes”, explica o teólogo, “a Escritura nos apresenta o chamado, a vocação, próprio como uma transformação do ofício: de uma ocupação material a uma dedicação espiritual. Assim que aquilo que foi vivido segundo a carne possa sugerir como um sinal os valores do Espírito”.

“Deus está sempre trabalhando para orientar a pessoa à descoberta de uma maior dimensão do viver, de uma doação mais útil, um serviço mais útil para os irmãos. Deus chama na vida concreta, naquela história em que se faz, de algum modo, ver, revelar alguma coisa do chamado. Deus chama na vida concreta, inclusive nos seus aspectos de sentido e de fadiga, que são as condições – essas – para atrair, talvez inconscientemente, uma realidade superior: aquela de Deus, e somente Ele é capaz de revelar e de realizar.”

A inconsciência de Moisés

Moisés não sabe onde está indo e nem mesmo percebe que se aproxima de um lugar sagrado quando fica intrigado com o arbusto ardente do monte Horeb. Não imagina o significado do arbusto queimado pelo fogo sem se consumir e o que será revelado a ele. “Esses vários aspectos de ignorância, de inconsciência”, sublinha Pe. Bovati, “constituem a matriz essencial para compreender o que seja realmente a vocação na sua dimensão profética, isto é, que é sempre uma revelação de Deus, não uma lúcida autoconsciência, não uma autodeterminação”. Chamando-o pelo nome, Deus pede, de fato, a Moisés, uma disponibilidade pessoal pela qual ele responde, dizendo: “estou aqui” e “empreendendo um caminho de consciência e de obediência”.

Um evento inesperado

O chamado de Deus acontece, então, “numa condição humana, numa pessoa, despreparada; acontece como uma surpresa, como um evento inesperado e, aparentemente, que aconteceu do nada”. É inesperada, de fato, a escolha de Davi, um rapaz que toca a cítara e não um guerreiro para combater Golias, ou aquela de Jeremias, um jovem inexperiente chamado a profetizar para as nações.

“A surpresa é, na verdade, a marca de Deus, e também a desproporção entre aquilo que se considera ser oportuno, e até mesmo necessário aos olhos dos homens, e aquilo que Deus escolhe como mediação: como um servo para a sua obra de salvação.”

O significado do arbusto

Do arbusto chega a voz de Deus. Um sinal que a Bíblia não explica explicitamente, mas que para o sacerdote jesuíta pode ser interpretado em dois modos. De um lado, o arbusto é a representação simbólica de Moisés: é um homem, uma realidade miserável atingida pelo fogo “simbólico privilegiado do Deus vivo”. Uma união que, “ao contrário de aniquilar a criatura fraca e frágil, promove ela a uma vitalidade, a uma tarefa que ao homem parece impossível”. Do outro lado, o arbusto é “a realidade sofredora do povo de Israel”, enquanto o fogo é “o poder cruel do opressor egípcio que, no entanto, não é capaz de aniquilar essa frágil realidade de um povo submisso, porque Deus está presente”.

A vocação nasce do coração do indivíduo

No Novo Testamento se mostra, por outro lado, o valor espiritual da vocação para quem já segue o Senhor. No Evangelho de Mateus, Jesus pede aos discípulos: “quem querem que eu seja?”, para deixar claro que Ele  não é um dos tantos profetas, mas que é “o Único, o Filho, o Messias, o Evento real” e não uma expectativa ou uma preparação. “Tu és o Cristo, Filho do Deus vivo”, responde Pedro. Uma resposta que não vem da carne e do sangue, das decisões humanas, mas vem por uma revelação do Pai. Uma resposta que não é coletiva, mas individual.

“A vocação è sempre uma escolha que nasce do coração do indivídulo e nunca é o consentimento de um grupo, de algo que se determina de maneira coletiva, como uma espécie de onda na qual um participa sem uma responsabilidade pessoal, decisiva.”

Inclusive Pedro, com a adesão a Deus, se transforma. Não somente no nome, mas na substância. “Ele, frágil, incerto, se torna a rocha sobre a qual repousa a própria Igreja, torna-se princípio de solidez na fé para ajudar os seus irmãos a superar todas as armadilhas do diabo, todos os poderes do submundo que serão desatados”.

Seguir realmente o Senhor

A nós, conclui Pe. Bovati ao se dirigir à Cúria, “nos foi dado para ser como Pedro, mas devemos seguir o Senhor, segui-lo realmente” no seu caminho da Paixão e da Cruz. O convite é rezar para pedir o dom do Espírito para sermos realmente discípulos do Senhor. Um desejo exemplificado pelo Salmo 63, aquele da “escolha de Deus”, que diz: “o teu amor vale mais de uma vida”, “numa relação de amor e de comunhão que é verdadeiramente a nossa bem-aventurança”.

 

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