05/04/2016

Papa diz o que é preciso para se tornar um servo da misericórdia

Francisco destacou generosidade, paciência, abertura de coração, alegria e amor gratuito como características de quem anuncia com a própria vida a misericórdia de Deus.

Francisco destacou generosidade, paciência, abertura de coração, alegria e amor gratuito como características de quem anuncia com a própria vida a misericórdia de Deus. A estrada que Jesus Ressuscitado nos aponta segue apenas em uma direção: “Sair de nós mesmos”, disse.

O Evangelho da misericórdia procura “bons samaritanos”, pede servos generosos e alegres, que amam gratuitamente sem nada pretender em troca: foi o que disse o Papa Francisco na missa celebrada na manhã deste II Domingo da Páscoa, festa da Divina Misericórdia.

Após a vigília de oração da tarde precedente, a Praça São Pedro voltou a lotar-se este domingo para a missa com o Santo Padre, na qual Francisco reiterou que “tudo o que Jesus disse e fez é expressão da misericórdia do Pai”.

O Evangelho é o livro da misericórdia de Deus, disse o Papa, acrescentando que “o Evangelho da misericórdia permanece um livro aberto, onde se há de continuar a escrever os sinais dos discípulos de Cristo, gestos concretos de amor, que são o melhor testemunho da misericórdia”.

“Todos somos chamados a tornar-nos escritores viventes do Evangelho, portadores da Boa Nova a cada homem e mulher de hoje. Podemos fazê-lo praticando as obras corporais e espirituais de misericórdia, que são o estilo de vida do cristão. Através destes gestos simples e vigorosos, mesmo se por vezes invisíveis, podemos visitar aqueles que passam necessidade, levando a ternura e a consolação de Deus.”

Deste modo damos continuidade ao que fez Jesus no dia de Páscoa, “quando derramou, nos corações assustados dos discípulos, a misericórdia do Pai, o Espírito Santo que perdoa os pecados e dá a alegria”, frisou.

Atendo-se ao Evangelho deste segundo domingo da Páscoa, no qual Jesus, oito dias após sua Ressurreição, apareceu a seus discípulos, o Papa chamou a atenção para um contraste evidente: por um lado – disse –, “temos o medo dos discípulos, que fecham as portas da casa; por outro, temos a missão, por parte de Jesus, que os envia ao mundo para levarem o anúncio do perdão”.

O mesmo contraste pode verificar-se também em nós: “uma luta interior entre o fechamento do coração e o chamado do amor para abrir as portas fechadas e sair de nós mesmos”, observou.

Francisco ressaltou que a estrada que o Mestre ressuscitado nos aponta é estrada de sentido único, segue-se apenas numa direção: “sair de nós mesmos, para testemunhar a força sanadora do amor que nos conquistou. Muitas vezes vemos, diante de nós, uma humanidade ferida e assustada, que tem as cicatrizes do sofrimento e da incerteza”.

Cada doença pode encontrar na misericórdia de Deus um auxílio eficaz. Com efeito, prosseguiu o Santo Padre, a sua misericórdia não se detém à distância: “quer vir ao encontro de todas as pobrezas e libertar de tantas formas de escravidão que afligem o nosso mundo. Quer alcançar as feridas de cada um, para medicá-las.”

“Ser apóstolos de misericórdia significa tocar e acariciar as suas chagas, presentes hoje também no corpo e na alma de muitos dos seus irmãos e irmãs.”

O Papa disse ainda que ao cuidar destas chagas, professamos Jesus, tornamo-Lo presente e vivo; permitimos a outros que palpem a sua misericórdia, e O reconheçam ‘Senhor e Deus’, como fez o apóstolo Tomé.

“O Evangelho da misericórdia, que se deve anunciar e escrever na vida, procura pessoas com o coração paciente e aberto, «bons samaritanos» que conhecem a compaixão e o silêncio perante o mistério do irmão e da irmã; pede servos generosos e alegres, que amam gratuitamente sem nada pretender em troca.”

Após lembrar a saudação de paz que Cristo leva aos seus discípulos, “A paz esteja convosco!”, e enfatizar que é a mesma paz que esperam os homens do nosso tempo, o Papa caracterizou a paz de Cristo, aquela paz que somente Ele pode nos dar:

“Não é uma paz negociada, nem a suspensão de algo errado: é a sua paz, a paz que brota do coração do Ressuscitado, a paz que venceu o pecado, a morte e o medo. É a paz que não divide, mas une; é a paz que não deixa sozinhos, mas faz-nos sentir acolhidos e amados; é a paz que sobrevive no sofrimento e faz florescer a esperança. Esta paz, como no dia de Páscoa, nasce e renasce sempre do perdão de Deus, que tira a ansiedade do coração.”

“Ser portadora da sua paz: esta e a missão confiada à Igreja no dia de Páscoa”, disse o Pontífice, acrescentando que “nascemos em Cristo como instrumentos de reconciliação, para levar a todos o perdão do Pai, para revelar o seu rosto de amor nos sinais da misericórdia”.

Por fim, lembrando que “O amor do Senhor é para sempre”, proclamado no Salmo Responsorial da celebração (Sl 117), enfatizou a certeza que temos de que “Deus não nos abandona: permanece para sempre”.

Francisco pediu a graça de não nos cansarmos de tomar a misericórdia de Deus e levá-la pelo mundo: “peçamos para sermos misericordiosos, a fim de irradiar por todo o lado a força do Evangelho, para escrever aquelas páginas do Evangelho que o apóstolo João não escreveu”, concluiu o Pontífice, aludindo às palavras com as quais o ‘discípulo amado’ encerra esta página do Evangelho – “Muitos outros sinais miraculosos realizou ainda Jesus, na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro”, Jo 20, 30.

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