‘Chamados a viver de misericórdia’
o Jubileu é um convite a contemplarmos o mistério da misericórdia divina, que é condição da nossa salvação, fonte de alegria, serenidade e paz.
Estamos vivendo na Igreja um tempo especial: o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que teve início no dia 8 de dezembro, solenidade da Imaculada Conceição. Proclamado pelo Papa Francisco durante a celebração das Primeiras Vésperas do Domingo da Misericórdia de 2015, no dia 11 de abril, o Jubileu é um convite a contemplarmos o mistério da misericórdia divina, que é condição da nossa salvação, fonte de alegria, serenidade e paz.
Na Bula Misericordiae Vultus, o Pontífice nos descreve o que essa palavra significa para toda a humanidade:
“Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado.”.
Num mundo marcado pelo egoísmo, intolerância, arrogância e fundamentalismo, que tem gerado guerra, pobreza, exclusão, desrespeito, sofrimento e morte, a Igreja conclama a humanidade a mergulhar no oásis da misericórdia. Diante dos inconformismos, dos que gritam por justiça e choram por seus mortos, o Papa vem lembrar que “a misericórdia será sempre maior do que qualquer pecado, e ninguém pode colocar um limite ao amor de Deus que perdoa” e salva. “As situações de miséria e de conflitos são para Deus ocasiões de misericórdia”, afirmou Francisco no encerramento do Sínodo dos Bispos para a Família, no dia 25 de outubro.
Caminho de santidade e conversão
Com a ousadia dos profetas, o Santo Padre afirma que a Porta Santa é “uma Porta da Misericórdia, onde qualquer pessoa que entre poderá experimentar o amor de Deus que consola, perdoa e dá esperança”.
Mas o que este Papa está dizendo? Quem mesmo poderá experimentar o imenso amor de Deus? Serão os penitentes? Os justos? Os cumpridores da lei? Os cristãos?… Não! Ele afirma que serão TODOS, ou melhor, QUALQUER PESSOA que entre por ela. E não poderia ser diferente, porque o amor de Deus não faz distinção de pessoa. Todos os homens, crentes e não crentes, são alvos do amor de Deus.
Porém, na afirmação de Francisco, há uma sutil condição que pode passar despercebida por um leitor desatento. Vejamos novamente. O Papa diz no texto da Bula: “(…) qualquer pessoa que ENTRE poderá experimentar o amor de Deus que consola, perdoa e dá esperança”. Então, para fazer essa experiência, será preciso entrar, passar pela Porta Santa da Misericórdia.
Esta não é uma condição de menor peso. Engana-se quem pensa que seja um mero detalhe. Por que, para entrar, para passar por essa porta, será preciso uma conversão do coração. Muitos de nós, do alto de nossa soberba espiritual, temos aqueles que apontamos como indignos, que são alvos de nossos julgamentos e desconfianças. Muitos de nós carregamos preconceitos baseados em “certezas absolutas”, em “leis”, “tradições e tradições”, que nos dificultarão passar por essa porta.
Na Carta Encíclica Dives in Misericordia, São João Paulo II, em 1980, já assinalava a dificuldade que o homem contemporâneo (portanto eu e você) tem em deixar-se conduzir pela misericórdia:
“A mentalidade contemporânea, talvez mais do que a do homem do passado, parece opor-se ao Deus de misericórdia e, além disso, tende a separar da vida e a tirar do coração humano a própria ideia da misericórdia. A palavra e o conceito de misericórdia parecem causar mal-estar ao homem, o qual, graças ao enorme desenvolvimento da ciência e da técnica, nunca antes verificado na história, se tornou senhor da terra, a subjugou e a dominou. Tal domínio sobre a terra, entendido por vezes unilateral e superficialmente, parece não deixar espaço para a misericórdia” (cf. n.2). Somos uma geração autossuficiente e trazemos essa autossuficiência aprendida também para a prática religiosa.
O coração duro do homem contemporâneo – o meu, o seu coração – precisa do choque da misericórdia. Só quem experimentou a misericórdia de Deus pode de fato dar testemunho dela e levar outros a experimentá-la. Ainda no texto da Carta Encíclica, São João Paulo II destaca que “o autêntico conhecimento do Deus da misericórdia, Deus do amor benigno, é a fonte constante e inexaurível de conversão (…). Aqueles que assim chegam ao conhecimento de Deus, aqueles que assim O ‘veem’, não podem viver de outro modo que não seja convertendo-se a Ele continuamente. Passam a viver in statu conversionis, em estado de conversão; e é este estado que constitui a característica mais profunda da peregrinação de todo homem sobre a terra in statu viatoris, em estado de peregrino” (n. 13).
Que Santa Faustina, religiosa que recebeu visões e revelações de Nosso Senhor a respeito da Divina Misericórdia, interceda por nós para que não fiquemos de fora (cf. Lc 15, 16-24) e adentremos no coração da Trindade por essa Porta Santa que estará aberta para TODOS, portanto, também para nós, com nossas limitações, falhas e pecados.
Promessas aos que divulgarem a divina misericórdia
Santa Faustina conta em seu Diário que Jesus fez promessas de graças e bênçãos para todos os que divulgarem a devoção à Divina Misericórdia. São elas:
“Eu mesmo os defenderei na hora da morte como a Minha glória. E, ainda que os pecados das almas fossem negros como a noite, quando o pecador recorre à minha misericórdia presta-Me a maior glória e é a honra da Minha Paixão. Quando a alma glorifica a minha bondade, então o demônio treme diante dela e foge até o fundo do inferno” (Diário,378).
“As almas que recorrem à Minha misericórdia e aquelas que glorificarem e anunciarem aos outros a Minha grande misericórdia, na hora da morte Eu as tratarei de acordo com a minha infinita misericórdia” (Diário, 1520).
“As almas que divulgam o culto da Minha misericórdia Eu as defendo por toda a vida como uma terna mãe defende seu filhinho e, na hora da morte, não serei Juiz para elas, mas sim o Salvador Misericordioso. Nessa última hora a alma nada tem em sua defesa, além da Minha misericórdia. Feliz a alma que, durante a vida, mergulhou na fonte da misericórdia, porque não será atingida pela justiça” (Diário,1075).
Andreia Gripp
(publicado originalmente na Revista Shalom Maná)
0 Comentários