27/10/2015

Sexualidade humana: educação para a castidade

por Revista Shalom Maná

O tema da sexualidade humana atravessou diversas fases históricas, do mistério ao tabu, do confuso entendimento de suas particularidades à levianas manifestações de suas propriedades, enfim, foi e continua sendo objeto de muita discussão e, talvez, de pouca e correta apreciação. Nos propomos aqui a lançar um olhar tranqüilo, quase contemplativo sobre umas das maiores […]

O tema da sexualidade humana atravessou diversas fases históricas, do mistério ao tabu, do confuso entendimento de suas particularidades à levianas manifestações de suas propriedades, enfim, foi e continua sendo objeto de muita discussão e, talvez, de pouca e correta apreciação. Nos propomos aqui a lançar um olhar tranqüilo, quase contemplativo sobre umas das maiores forças e beleza da pessoa humana e não poderemos partir de um outro ponto que não seja “a importância e o sentido da diferença dos sexos como realidade profundamente inscrita no homem e na mulher: ‘a sexualidade caracteriza o homem e a mulher não apenas no plano físico, mas também no psicológico e espiritual, marcando todas as suas expressões’. Não se pode reduzi-la a puro e insignificante dado biológico, mas é ‘uma componente fundamental da personalidade, uma sua maneira de ser, de se manifestar, de comunicar com os outros, de sentir exprimir e viver o amor humano’. Esse é o pressuposto de uma correta educação para a castidade.

Talvez um dos maiores problemas seja exatamente a estreiteza com a qual se entende a sexualidade. Gasta-se tempo com superficialidades porque não nos ocupamos da sua verdadeira origem que implica exatamente na ampla manifestação do particular gênero com o qual fomos pensados e chamados à existência pelo Criador: homem e mulher, o que faz da “sexualidade um dos mais belos dons que recebemos de Deus. Ela se expressa, em todas as áreas do nosso ser: nosso corpo, nossos pensamentos, nossos sentimentos,nossa forma de nos relacionarmos com o mundo (nossa afetividade) e nos foi dada para a complementaridade” , daí pensar a sexualidade focada apenas nos genitais reduziria a órgãos a imensa riqueza do que somos na totalidade do nosso ser perante Deus, nós mesmos e perante os homens.

Pensemos então na sexualidade como o conjunto dos sinais que manifestam a nossa particular feição de filho de Deus, com aquelas características que recordam a grandeza de onde viemos e o que valemos: a sexualidade é, portanto, por natureza, uma sublime linguagem, tão nobre quanto qualquer outro gesto, uma vez que apresenta o próprio mistério da vida divina, seu modo de manifestar-se e de doar-se. Pela sexualidade nos expressamos, mas o que expressamos? Se não for a presença do Criador, a sexualidade não cumpre o seu papel, não atinge a sua finalidade, não plenifica aquele que a possui, não gera a ordem interior desejada e perseguida mesmo por aqueles que a tratam de forma leviana: “Como se vê a confusão de entendimento por vezes existente entre sexualidade (característica da personalidade masculina ou feminina como um todo) e exercício da genitalidade (relacionamento sexual) é profundamente limitante do conceito mais amplo do que seja sexualidade. Esta nos foi dada para a comunhão interpessoal, para o ‘ser para o outro’, como as três Pessoas da Trindade.” Temos aqui o ponto de partida para tratarmos a dignidade da sexualidade de forma orientada e responsável, e somente nessa perspectiva podemos falar de uma autentica educação para a castidade.

Educar vem do latim educere e significa e – fora + ducere – conduzir, o que nos indica a exigente tarefa de evocar o que está ainda escondido, em desenvolvimento a partir de dentro, até à sua plena manifestação. Educar para a castidade, então, nada mais é que evocar de dentro do homem o que ele traz de mais legitimo na sua semelhança e relação com o Criador, a saber, a doação livre e incondicional de si mesmo. E a correta formação da sexualidade torna-se imprescindível, uma vez que ela “tem um papel fundamental em tudo o que somos, pensamos, fazemos e na maneira como existimos, pensamos, sentimos e agimos. Em nossa história da salvação pessoal, a nível de autoconhecimento e de auto-identificação, é imprescindível que tenhamos uma identidade sexual coerente e bem definida, pois é como homem ou como mulher que nos relacionamos com a criação, com os outros, conosco mesmos e com Deus.”

Educar para a castidade será levar a pleno desenvolvimento a particular identidade – masculina ou feminina – a assemelhar-se ao Criador, sobretudo na doação ininterrupta de si mesmo, através daqueles traços do gênero depositados na nossa natureza, sempre com fim de serviço, nunca por motivações egoístas ou centralizadoras o que contrariaria enormemente nossa Origem. Castidade é guardar-se para viver este fim de servir generosamente aos projetos ordenados do Criador, sua santidade e vontade, pois “a capacidade de amar [inscrita na diferença entre a sexualidade masculina e feminina] é inseparável da teológica. A criatura humana, na sua unidade de alma e corpo, é desde o princípio qualificada pela relação com o outro-de-si. .

Com esse horizonte ampliamos nosso entendimento de castidade e podemos caminhar mais objetivamente na sua assimilação como valor e experiência, e poderemos nos render – nós, educadores e educandos – às exigências de uma educação para a castidade. Entender os prejuízos do egoísmo abertamente defendido nos dias de hoje, numa vivencia exacerbada e sem limites da sexualidade mal interpretada na sua dinâmica e finalidade, sob o pretexto de uma liberdade que não serve à generosidade, mas à desordem de amar a si mesmo até o desprezo de Deus com a ilusão de satisfazer-se, fere profundamente o desenvolvimento e funcionamento sadio do homem e da mulher, uma vez que é a castidade a “forma suprema do dom de si que constitui o sentido próprio da sexualidade humana” . Por isso, educar para a castidade é obedecer à finalidade mais profunda do homem e deveria plasmar toda iniciativa de formação da pessoa nas suas diversas fases, nos seus diversos ambientes e atividades e, embora trate-se de uma graça, a castidade é mais natural ao homem do que suas tendências imperiosas de egoísmo. Identifica mais o homem a ordem, a gratuidade e a liberdade do que todas os vícios gerados pelos seus desvios na virtude.

Faz parte desse processo um caminho de disciplina que tem por principio o valor da pessoa, o que torna inadmissível o uso obstinado dos dons e forças naturais para fins indignos da sua origem. Daí, ser a castidade “a energia espiritual que liberta o amor do egoísmo e da agressividade. Na medida em que, no ser humano, a castidade enfraquece, nessa mesma o seu amor se torna progressivamente egoísta, isto é, a satisfação de um desejo de prazer e já não é dom de si” e o auto-domínio, portanto, torna-se uma postura interior de resposta e obediência à própria dignidade e finalidade. A partir desse horizonte compreende-se a seriedade e a positiva rigidez na defesa da castidade como antídoto contra toda ameaça ao valor intrínseco da sexualidade humana, originada e destinada à doação de si, sempre pelos ordenados caminhos da caridade de Cristo que vê o homem na totalidade da sua dignidade e não sob o véu utilitarista disfarçado de liberdade, olhar superficial tão característico do nosso raio contemporâneo.

[1] Cf. Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé. Carta aos Bispos sobre a colaboração entre o homem e a mulher na Igreja e na sociedade, p. 14

[1] OQUENDO NOGUEIRA, Maria Emmir, Tecendo o Fio de Ouro, 6a ed., Ed. Shalom 2006.

[1] Id.

[1] Id.

[1] Idem, p. 15

[1] João Paulo II, Familiaris Consortio, n. 37

[1] Pontifício Conselho para a Família, Sexualidade Humana e Significado, www.vatican.va

Meyr Andrade
Artigo originalmente publicado na Revista Shalom Maná

1 Comentário
  1. Beatrice disse:

    Thinking like that is really imrsipseve

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