18/08/2016

Reaprender a louvar

por Jean-Luc Moens e Pe. Alain Dumont / Shalom

Criados à imagem de Deus, fomos feitos para tudo receber dele, viver unidos a Ele e assim contemplar todas as coisas nele. Mas depois do pecado original, não olhamos mais que a nós mesmos e não contemplamos mais o mundo senão através do nosso pobre olhar. Louvar não nos é mais natural: há também a […]

Criados à imagem de Deus, fomos feitos para tudo receber dele, viver unidos a Ele e assim contemplar todas as coisas nele. Mas depois do pecado original, não olhamos mais que a nós mesmos e não contemplamos mais o mundo senão através do nosso pobre olhar. Louvar não nos é mais natural: há também a fadiga da prova, os fardos da existência. Além disso, o mundo em que vivemos privilegia uma cultura de violência e de morte face à qual é difícil articular uma resposta cristã. Esta resposta existe, portanto! Deus nos tem concedido um dom maravilhoso: a fé. E o cume da fé é o louvor.

“Eu estou no meio de vós”

Não consideramos demasiado rápido que o louvor seja simples. Os cristãos carregam o fardo dia como todo homem nesse mundo. Mas eles o carregam diferentemente, e é essa diferença, preparada no de Cristo, provada na Igreja, que lhe faz no mundo operários em toda parte.

O fundamento do louvor não é uma “crença” ou uma “esperança” mas a certeza da fé: “Eu estou no meio de vós”, nos diz o Cristo (Lc 22,27). O que nós temos visto ou entendido, feito ou omito, Deus aí está, no Poder de sua Presença divina. Não há nenhum espaço, nenhum momento da existência humana, seja ele inconfessável, onde Deus não esteja presente, e isso muda tudo! Porque essa presença é a presença de um Deus que salva. Quando nos criou para Ele, sua Palavra tem já ecoava: “Tudo quanto suplicardes e pedirdes, crede que recebestes, e assim será para vós” (Mc 11,24).

Desde a manhã, eu te louvo

Uma tal certeza de fé deve antes de tudo habitar nossa vida pessoal. Atenção! “pessoal” não significa “solitária”. Porque não temos nenhuma vida pessoal se nós vivemos sem Deus e nossos irmãos.

E a relação com Deus o fundamento da vida de todo homem. Este último está presente como um pai que vela sobre seu filho antes mesmo que ele tenha consciência disso. Esta presença pode já ser um motivo de louvor a cada amanhecer, no instante que se dá a abertura de nossas pálpebras: “Ao amanhecer, Senhor, eu Te rendo graças por esta noite onde Tu me preservaste do mal, e eu Te louvo por esse dia passado em Tua Presença”. A gente não fala no futuro, porque este dia está desde agora inteiramente na mão de Deus, .e qualquer coisa que nele aconteça. Por essa palavra pronunciada, meu coração se torna disponível à presença divina que prepara já alguns de meus encontros, cada episódio do dia. Haverá alegrias e provas, mas eu não temerei nada pois o Senhor está presente.

O “reflexo” do coração

Esta prece ao amanhecer não abre somente nossas pálpebras mas nosso olhar. Uma das grandes fontes de desequilíbrio psicológico hoje vem porque não sabemos mais nem olhar nem receber. Demasiado freqüentemente, nós vivemos só para nós mesmos. Nós consumimos nossas relações como os bens materiais, ou mesmo a natureza. Nós não procuramos conhecer, a impressão nos basta. Nós percebemos as coisas e os homens como mercadorias amontoadas. Isso nos fecha à ação de Deus que não trabalha na confusão. Eu não posso louvar a Deus pelas impressões que me habitam, ou pelo que eu penso. Eu não posso louvá-lo por uns fatos precisos e pelo que eu sei, isso que eu conheço. A questão aqui não é de um saber enciclopédico.

Ele se move num conhecimento simples, mas essencial. Desde a manhã, por exemplo, eu sei que cada segundo do dia está na mão de Deus, e eu escolho olhar seriamente esta realidade escolhendo uma decisão precisa: glorificar a Deus em cada ocasião que eu terei de reconhecer sua presença. Antes de “consumir” meu dia, eu o assumirei sem medo. A colocação em lugar de um pequeno reflexo, o “reflexo do coração”, permite entrar pouco a pouco nesse olhar, nessa atitude. Ele consiste em pronunciar em toda ocasião uma breve exclamação que pode ser, a que mais me convém: “Glória a Deus”, “Seja glorificado, Senhor”, ou “Senhor, eu te amo”.

Uma tal exclamação tem a enorme vantagem de por fim a invasão do pecado em mim. Por exemplo, eu sai do chuveiro e não encontro mais a toalha que havia preparado: minha mulher precisou dela para enxugar os cabelos! Antes de deixar complacentemente que se crie em min uma irritação alias para ???? compreensível porém pecado, eu me volto para o reflexo da o olhar de Deus: “Glória a Deus” – mesmo de maneira irritada, a oração produz seu efeito. E se for preciso que eu faça uma reprimenda à minha mulher, essa não será mais sob o pecado, mas sob a caridade.

Outro exemplo, eu me encontro em meu trabalho e os colegas me retardam ainda que e eu tenho um encontro profissional importante. Dizendo “Glória a Deus”, eu remeto toda essa situação a Deus. Eu creio que Ele está presente nesse situação Ademais, minha chateação fará avançar as coisas? E eu sei que não tomo nunca uma boa decisão sob o efeito do pecado! Quando eu chego a esse encontro, meu interlocutor me acolhe com uma xícara de café que ele teve tempo de preparar com o meu atraso. “Glória a Deus”, e o café tem outro gosto, esse da presença amável de Deus e de meus irmãos!” Eu não “consumo” mais eu o recebo, e entro numa atitude de maravilhamento: pois, o Senhor está comigo e Ele envia anjos para preparar meu caminho.

Exercer o louvor

Cada dia pode apresentar mais de cem ocasiões para louvar. Em muitos casos, é verdade, é preciso querer louvar, querer exercer a fé. Se esperamos para ter boa disposição, nós somos ingênuos! Querer louvar, não através de método, mas por obediência. O louvor é com efeito um mandamento que atravessa a Bíblia de ponta a ponta. E como a fé se exerce no sentido onde ela se aprende, o louvor se exerce da mesma maneira. Pouco a pouco, este louvor exercido vai combater mais e mais rapidamente todas as tentações que se apresentarem, tanto nas situações mais graves como nas mais simples, seja uma simples bolsa desaparecida seja um engarrafamento!

Muitos que têm posto no lugar esse “reflexo espiritual”, têm podido atravessar situações dramáticas que vencidas no Senhor não são mais motivos de sofrimento, mas as suportam até o fim com a coragem da fé.

O louvor das crianças na Igreja

O desejo de Deus é maior ainda. Ele não se move para nos fazer chegar a ter melhor relação pessoal, mas uma participação no ser mesmo de Deus e à sua obra de Salvação. A todos esses que vivem com Deus esta relação de fé, de louvor, de obediência e de amor, Deus transforma-os em seus amigos. “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim!”(Gal 2,20), exclama São Paulo. O Espírito Santo permite ao Pai e ao Filho de fazer em nós sua morada. Um só Espírito para um só Corpo: o de Cristo e o da Igreja.

A fé é o fruto da presença em nós do Espírito Santo. É necessário nos abrir à essa presença no tempo e no contratempo. É assim que exercemos a fé e que fazemos a experiência de um crescimento na comunhão com Deus e uns com os outros.

À cada “Glória a Deus” pronunciado, é uma vitória da caridade que arrasta todo o Corpo da Igreja ao louvor. Isso porque a essência da prece é comunitária, eclesial e litúrgica. Quando eu me retiro para o meu quarto para orar, isto não é senão comunhão com todos os meus irmãos e primeiro com aqueles que o Senhor me confia precisamente. Da mesma maneira, não há verdadeiro louvor fora da Igreja.

O conteúdo do louvor

Porém, pensarão alguns, eu não sei o que dizer! Ainda assim, há um meio muito simples. Por que a noite não retorna sobre o dia passado e não marca sobre uma caderneta os momentos fortes que lhe marcaram? Um guardanapo que foi a ocasião de uma bela vitória da caridade sobre nosso pecado; uma xícara de café ofertada e uma situação profissional recuperada de maneira inesperada. A gente fala freqüentemente de exame de consciência da noite, porém ele será renovado por um exame prévio das maravilhas de Deus em nós e ao nosso redor, sem esquecer os acontecimentos do mundo. Em sete dias dá para encher 10 páginas de uma caderneta (inútil relatar os acontecimentos; uma simples anotação basta), e essa caderneta aberta de noite no grupo de oração, dará um conteúdo preciso ao meu louvor. É assim que cada um, ouvindo o louvor uns dos outros, será renovado na fé, na certeza de que Deus está trabalhando hoje, e que o mal que parece vitorioso ao nosso redor, rende as armas diante do poder do louvor.

Não tenhamos medo, em nossas assembléias, de render graças por tudo isso, sem distinguir demasiadamente entre louvor e ação de graças. A ação de graças transforma-se em louvor, porque ela bendiz a Deus que se revela no que Ele faz. Se nós aclamamos Deus como Criador, Salvador, Rei Soberano, Senhor, etc., Ele se manifestará concretamente como tal, e através desta manifestação dele mesmo. É seu ser eterno que é revelado e que nós aclamamos. Aquilo que Deus faz, Ele não cessa de refazer, porque Ele é fiel.

Esta certeza é a da Igreja; ela traz sua prece desde as origens, e cremos que esta Mãe dos viventes, como toda mãe, só é feliz quando seus filhos estão felizes, vivos, firmes, adultos na sua fé, porém sem esquecer que eles são as crianças. Está aí a fonte de nossa alegria, está aí a origem de toda evangelização.

Jean-Luc Moens e Pe. Alain Dumont

Formação out/2003

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