Misericórdia e reconciliação: por que é importante se confessar?
por Dom Orani João Tempesta, O. Cist.Acredito que a grande resposta a todos os ranços que existem entre as pessoas, e que muitas vezes se destroem entre si, será um povo reconciliado como sinal da misericórdia no meio de nossa sociedade. Assim como somos chamados a viver a reconciliação no interior da Igreja, ocorrerá também que o sinal da misericórdia deverá […]
Acredito que a grande resposta a todos os ranços que existem entre as pessoas, e que muitas vezes se destroem entre si, será um povo reconciliado como sinal da misericórdia no meio de nossa sociedade.
Assim como somos chamados a viver a reconciliação no interior da Igreja, ocorrerá também que o sinal da misericórdia deverá aparecer em nossa sociedade tão marcada pelo ódio e rancor e achando que a solução para todos os males é retribuir o mal com o mal.
A confissão não é apenas para absolver dos pecados cometidos e assim ter uma melhor condição espiritual para receber a Eucaristia. O Sacramento da Penitência é de grande valor substancial e extraordinária eficácia no desenvolvimento da vida cristã.
Na Teologia Sacramental exprime-se que a graça nele obtida tem infinita capacidade de santificar os homens. Outro aspecto é que a extensão de seus efeitos é proporcional à disposição daqueles que o recebem. A graça se coloca disponível num coração mais dócil à sua eficácia, como se expressa na Teologia Espiritual.
O perdão é difícil! A confissão da nossa fraqueza, mesmo que isso ocorra no mais absoluto segredo, nunca é fácil. Mas Deus nos pede para confiarmos a Ele os nossos fardos. Ele quer se comprometer conosco para nos dar coragem. O Pai enviou o Seu Filho para nos salvar e não para condenar.
Na confissão, começamos, sim, a nossa jornada rumo à misericórdia e à consolação que só Deus mesmo pode nos proporcionar, e que nenhuma força humana é capaz de fazê-lo. O mundo que Deus criou por amor não quer conhecer a Deus. Há uma espécie de cegueira espiritual que a humanidade está envolvida e mergulhada. Isso provoca uma grande escuridão espiritual, quenos causa confusão e dúvidas.
Tornamo-nos, assim, prisioneiros de nossos medos. Mas Deus nos demonstra o seu infinito amor através do Sacramento da Confissão. Tira-nos do marasmo espiritual e faz-nos ver a luz suprema, que é o Amor que supera todas as nossas imperfeições e nos completa por inteiro. Eis aí um belo fruto do Sacramento da Penitência!
Na verdade, a atual crise de fé afeta principalmente a inteligência, quando não se quer conhecer o que é e o que não é pecado. Não devemos, porém, ver pecado onde ele não existe. Isso também é sinal de maturidade na fé. Mas devemos ser sinceros em ver o pecado onde ele realmente está.
É importante, portanto, saber o que é certo em termos morais, e assumir o que Deus diz sobre a nossa vida no que é certo e no que é errado.
É certo, entretanto, que Deus não quer a nossa infelicidade, mas, completamente o oposto. Devemos ir a Ele com total confiança de que vamos encontrar a chave mestra de nossas questões mais íntimas e mais profundas. Seria bom recordar de nossa iniciação cristã e das orientações da Igreja para se realizar uma boa confissão sacramental.
- O Exame de Consciência. Nesta etapa, colocamo-nos diante de Deus que nos ama e quer estar sempre ao nosso lado. Analisamos a nossa relação com Ele e abrimos o nosso coração.
- Contrição dos pecados e arrependimento. Aqui percebemos o nosso pecado e como ele nos distancia do amor de Deus. Percebemos que se quisermos ser plenamente felizes,temos que aprender a fazer a vontade Dele e não somente a nossa. Não queremos rejeitar o amor Dele.
- Propósito sincero de não mais pecar. Finalmente, devemos aceitar que Deus quer nos transformar através do sacramento e, por sua vez, nós nos determinamos a começar uma nova etapa, a dar um novo passo. Se realmente amamos a Deus então não queremos Dele nos separar em definitivo.
- Manifestar os nossos pecados. Não devemos ter receio e ter vergonha de assumir as nossas falhas. Devemos fazer isso de forma clara, sincera, despretensiosa.
- Fazer penitência. Neste último ponto queremos nos redimir por completo. Isso por gratidão, por amor e não por força ou coação, mas com coração assumido no pleno amor. “Se dizemos que não temos pecado, nos enganamos a nós mesmos e a verdade não está em nós” (I Jo 1, 8). Quando confessamos, somos leais ao Senhor, que para conosco é sempre fiel. A Sua fidelidade neutraliza a nossa infidelidade. Sua justiça purifica a nossa injustiça. O perdão do Senhor é completo, incondicional se a Ele correspondemos com outra resposta de amor completo e incondicional. O Senhor sempre quer nos restaurar e nos trazer de volta ao Seu amor.
Por fim, queremos recordar o magistério catequético do Santo Padre Bento XVI, quando nos afirma que “mediante o Sacramento da Penitência, Cristo crucificado e ressuscitado, mediante os seus ministros, purifica-nos com sua infinita misericórdia, restitui-nos à comunhão com o Pai Celestial e com os irmãos, nos dá o Seu amor, Sua alegria e Sua paz (mensagem do Ângelus fevereiro de 2009).
Nessa mesma mensagem, o Papa concluiu convidando os fiéis a procurarem com frequência o Sacramento da Confissão, pedindo a redescoberta de seu imenso valor e de sua importância na vida cristã. Por isso tenho pedido sempre em nossos encontros com o clero para que facilitem ao máximo o atendimento das confissões de nossos fiéis. Todos os que buscam o confessionário têm consciência da necessidade de uma vida virtuosa e se colocam como autênticos discípulos-missionários de Jesus Cristo.
E quanto mais caminharmos na direção dessa experiência misericordiosa mais poderemos ser sinais desse amor de Deus à humanidade tão machucada e ferida.
Dom Orani João Tempesta, O. Cist.
Formação Shalom 2010
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