30/04/2020

LUMEN GENTIUM, e a sua natureza na Igreja

por Diácono Durval Filho

A Igreja como sacramento de Cristo, realiza a Vontade salvífica do Pai na missão e obra do Filho, seu primeiro e último fundamento.

A Constituição Dogmática Lumen Gentium do Concílio Vaticano II, em suas primeiras palavras apresenta a palavra luz, tornando-se assim um mistério: o mistério da Igreja como sacramento da Trindade e sacramento da comunhão dos seres humanos como o novo de Deus. Como mistério, a Igreja é uma sociedade ao mesmo tempo visível e espiritual.

A Igreja como sacramento de Cristo, realiza a Vontade salvífica do Pai na missão e obra do Filho, seu primeiro e último fundamento. É vivificada e santificada pelo Espírito, tornando-se na terra a semente do Reino que vai se realizando em figuras que que constituem o corpo místico de Cristo.

“A luz dos povos é Cristo: […] Mas porque a Igreja, em Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da intima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano, pretende ela, na sequência dos anteriores Concílios, pôr de manifesto com maior insistência, aos fiéis e a todo o mundo, a sua natureza e missão universal” (LG 1).

A Igreja como mistério da Aliança iniciada no Antigo Testamento, realizada na morte-ressurreição-efusão do Espírito Santo e a ser concluída na glória no final dos tempos. É o lugar, o espaço e a comunidade para encontrar o Pai, em Cristo pela santificação do Espírito, preparada desde a criação do mundo. A Igreja é, em Cristo, a semente do Reino definitivo. Pela ação dos sacramentos o Espírito constrói a unidade que o Pai preparou para o gênero humano, dela a Igreja se faz sinal elevado em meio as nações.

A Ecclesia como um todo é criatura da Trindade: o Espírito consuma a obra do Filho e faz com que os seres humanos tenham acesso ao Pai, é fonte de vida; o Pai santifica e vivifica a Igreja, habitando no coração dos fiéis, dando neles testemunho da adoção filial. O Espírito é quem realiza na Igreja todas as ações, rejuvenescendo-a e renovando-a constantemente.

A primeira missão da Igreja é semear a boa nova da chegada do Reino, transformando sua ação em acontecimento. Assim como a semente lançada no campo, vai realizando por força própria a germinação, o crescimento até à colheita final, assim também acontece com o Evangelho e a Igreja, que se difunde por obra e graça do Espírito Santo que age nos homens e nas mulheres de boa vontade.

O mundo é a imensa plantação de Deus, mas a Igreja, segundo alguns padres, é o novo Éden, plantado por Cristo, rico de árvores irrigadas pelos quatro rios evangélicos (evangelistas) e carregadas de muitos frutos.

É o Senhor que semeia Israel na terra, e o espalha entre os povos. A parábola de semear está ligada sobre o ato de semear a Palavra de Deus, isto é, a proclamação da chegada do Reino. Os quatro tipos de terreno ilustram a diversidade de resposta à mensagem. Embora boa parte do terreno não corresponda à semente, nem por isso a parábola deixa de estender a promessa de uma grande colheita, encorajando, assim, a perseverança da pregação.

“Por vocação própria, compete aos leigos procurar o Reino de Deus tratando das realidade temporais e ordenando-as segundo Deus. Vivem no mundo, isto é, em toda e qualquer ocupação e atividade terrena, e nas condições ordinárias da vida familiar e social, com as quais é como que tecida a sua existência. São chamados por Deus para que, aí, exercendo o seu próprio oficio, guiados pelo espírito evangélico, concorram para a santificação do mundo a partir de dentro, como o fermento, e deste modo manifestem Cristo aos outros, antes de mais pelo testemunho da própria vida, pela irradiação da sua fé, esperança e caridade” (LG 31).

A Igreja está peregrinando nessa terra, suspirando pelos bens celestes e as coisas do alto. Lá Cristo está sentado à direita do Pai e a Igreja está escondida com Ele, esperando o dia de aparecer na glória. Como o corpo está unido à cabeça, a Igreja está continuamente unida a Cristo através dos sacramentos, o elo de união estável e indissolúvel. Toda ação sacramental é dinamizada pela alma da Igreja, que é o Espírito Santo unificador, que a conduz até que alcance a plenitude de Deus.

O tema da luz continua na apresentação das virtudes teologais como fundamento da Igreja-comunidade e, ao mesmo tempo, da sociedade humana hierarquicamente organizada como comunidade ornada com os dons celestes. A Igreja assim organizada, é a Igreja una, santa, católica e apostólica, conforme professamos no Credo.

Após a sua ressurreição, Jesus Cristo entregou e confiou a difusão e governo desta Igreja a Pedro e aos demais apóstolos. Ela, constituída e organizada neste mundo como sociedade subsiste na Igreja católica, que é governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em união com ele.

A relação do Papa com os bispos, reafirma o primado do sucessor de Pedro, mas esclarece que entre os bispos deve haver uma colegialidade responsável. Aos bispos reafirma-se a tarefa de ensinar, santificar e governar. Segue a orientação para os presbíteros, colaboradores diretos dos bispos na condução das igrejas locais (dioceses-paróquias) e dos diáconos, reafirmando a Ordem como o sacramento com os três graus distintos.

Comunidade de pessoas santas e pecadoras, a Igreja é chamada a exercitar continuamente a penitência e a renovação. Vivendo em meio às perseguições do mundo e as consolações de Deus a Igreja é robustecida pela força do Senhor e do seu Espírito até que se manifeste em plena luz na casa do Pai.

“O sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial ou hierárquico, embora se diferenciem essencialmente e não apenas em grau, ordenam-se mutuamente um ao outro; pois um e outro participam, a seu modo, do único sacerdócio de Cristo. Com efeito, o sacerdote ministerial, pelo seu poder sagrado, forma e conduz o povo sacerdotal, realiza o sacrifício eucarístico fazendo as vezes de Cristo e oferece-o a Deus em nome de todo o povo; os fiéis, por sua parte, concorrem para a oblação da Eucaristia em virtude do seu sacerdócio real, que eles exercem na recepção dos sacramentos, na oração e ação de graças, no testemunho da santidade devida, na abnegação e na caridade operosa” (LG 10).

A ideia de Igreja Povo de Deus, substitui a ideia tradicional de Igreja Hierárquica. Todo o povo de Deus tem função profética, sacerdotal e régia; leigos e ordenados tem funções diferentes, mas igual dignidade.

A Igreja não pode realizar sua missão na grandeza e sim na pobreza e na abnegação, seguindo o exemplo de Cristo: evangelizar os pobres, sarar os contritos de coração, procurar e salvar o que perecera. Cristo é o verdadeiro pastor, cuja função consiste em reunir e proteger as ovelhas dispersas. Ele confia aos pastores o cuidado da Igreja adquirida por sangue e que é propriedade sua.

Uma eclesiologia que se apoia nas categorias de Povo de Deus e de comunhão deve ser capaz de desenvolver uma concepção dinâmica de pertença, orientando as diversas pertenças ao centro da Igreja e à união e comunhão com Deus. Uma Igreja entendida como Povo de Deus a caminho do Reino escatológico leva conceber a vida de fé e a vida da Igreja como um caminho com muitas etapas.

Sendo o caminho que conduz a colocar-se, por uma escolha sempre nova, a caminho na direção dessa meta. Nesse caminho, o fiel tem a necessidade da comunhão visível e concreta, onde se proclama a Palavra de Deus e celebram-se os sacramentos de salvação.

A Igreja tem por horizonte, sentido e meta o Reino e deve colocar-se a seu serviço. Esse Reino, iniciado pelo próprio Deus, deve ser anunciado a todos até que, no fim dos tempos, seja por ele mesmo consumado. Ela é uma grandeza totalmente relativa a Deus, à sua Palavra, ao seu projeto, ao seu Reino; aí podemos encontrar o absoluto, o transcendente, o ultimo e o definitivo da história.

A Igreja é antes de tudo uma comunidade daqueles que creem. Sua existência se refere à realidade, atos e fatos que lhe são anteriores: o Pai, o Filho e o Espírito Santo; não em si mesmo, mas em suas relações com o mundo e com a história. Vale lembrar que a Igreja é a comunhão dos santos e pecadores, e existe porque crê e deixará de ser quando deixar de crer.

“A missão da Igreja, destinada a todas as pessoas de boa vontade, funda-se sobre o poder transformador do Evangelho. Esse é uma Boa Nova portadora de uma alegria contagiante, porque contém e oferece uma vida nova: a vida de Cristo ressuscitado, o qual, comunicando o seu Espírito vivificador, torna-se para nós Caminho, Verdade e Vida. É Caminho que nos convida a segui-lo com confiança e coragem. E, seguindo Jesus como nosso Caminho, fazemos experiência da sua Verdade e recebemos a sua Vida, que é plena comunhão com Deus Pai na força do Espírito Santo, liberta-nos de toda a forma de egoísmo e torna-se fonte de criatividade no amor” (Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões 2017).

 

Deus te abençoe e Maria te guarde!

Diácono Durval Filho

Consagrado da dimensão de Aliança da Comunidade Mariana Boa Semente

Missão Banabuiú

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