16/08/2015

Como é que faz para ser como Maria?

por Maria Emmir Oquendo Nogueira / Shalom

São incontáveis as vezes em que, rezando ou pensando, tentei saber como é que se é como Maria. Toda mulher de fé, na verdade, se pergunta isso repetidamente. Como é, afinal, ser como Maria? Todas as mulheres hoje cinquentonas que tiveram a graça imensa de serem educadas na fé passaram por fases. Na infância, era […]

São incontáveis as vezes em que, rezando ou pensando, tentei saber como é que se é como Maria. Toda mulher de fé, na verdade, se pergunta isso repetidamente. Como é, afinal, ser como Maria?

Todas as mulheres hoje cinquentonas que tiveram a graça imensa de serem educadas na fé passaram por fases. Na infância, era preciso ser bondosa, calma, bem comportada e obediente para ser como a mamãe do céu. Ah! Era preciso também rezar ao acordar e ao adormecer. Maria nos era apresentada por um lado como modelo de comportamento e por outro como alguém imensamente superior a todos nós, exaltada em seus privilégios que não eram dados a mais ninguém. Era uma Mãe especialíssima, poderosíssima, a quem podíamos recorrer em qualquer situação. Era a Mãe do Céu.

Na adolescência, idade dos extremos, “Maria”, como a chamávamos com grande intimidade, era um ideal a perseguir. Qualquer visita que fazíamos a um enfermo, a uma criança abandonada já se transformava em uma verdadeira visitação e nos sentíamos, como se dizia na época, “as próprias”. Fazer um pequeno sacrifício ou renúncia nos levava àquele “ar marial” de quem mal pisa no chão. As raras exceções em que nos comportávamos como adolescentes abnegadas e silenciosas nos faziam dormir como as mais perfeitas imitadoras de Maria, ainda que no dia seguinte… valha-nos Deus! Maria era, para nós, Mãe de Jesus, Mãe de Deus e não eram poucas as discussões intermináveis que travávamos com os colegas evangélicos sobre este assunto.

Na juventude, algumas de nós fomos atingidas pela “onda” de que Maria era uma mulher igual às tantas mulheres sofredoras, pobres, de pés rachados pelo trabalho no campo, mãos ásperas e calejadas pelo cabo da enxada, pela roupa lavada à beira do açude barrento ou nas lavanderias da periferia. Não ser assim, para algumas, era sinônimo de não ser digna de ser como Maria. Virtudes? Para um bom número de nós, jovens dos anos 70, as virtudes de Maria, diferentemente da nossa infância e adolescência, não eram mais a bondade, a paciência, a castidade, a pureza, a mansidão, a humildade, mas a luta e a revolta. Maria tinha como virtude principal a luta revoltada pela justiça, pela igualdade social, contra as intempéries da vida, numa mistura de feminismo, materialismo e revolução que transtornou muitas de nós, criadas para a vida, para a beleza do feminino e das virtudes evangélicas, que certamente incluíam a justiça e sua busca, mas excluíam a revolta e a rebelião que alguns queriam estampar em Maria.

Com a idade adulta, aquelas que se abriram para a graça de Deus e os ensinamentos da Igreja, voltaram a desejar ser como Maria: Mãe e Mulher de Deus. Para quem teve a fé formada nesta fase, Maria era Mãe de Deus, Mãe dos homens, Mãe da Igreja. “Mãe do Redentor”, como ensinava João Paulo II, ciente de que separar Jesus e Maria no mistério da Salvação é separar a Cabeça do Corpo, uma vez que Maria é a Primeira Igreja.

A avalanche da segunda metade dos anos 70 e dos anos 80 nos pegou em plena adultídade. O mundo nos dizia que para ser mulher era preciso ser igual ao homem: no desempenho, no trabalho, na maneira de ver o mundo, na competência. A dignidade da mulher era, então, confundida com produção e não com filiação divina, embora a Igreja gritasse a verdade na Mulieris Dignitatem. Como em geral não se divulga o que pensa a Igreja, novamente fomos levadas pela avalanche e o modelo de mulher que nos era apresentado não mais era o de Maria,Virgem e Mãe.

A partir dos anos 90 foi crescendo a incredulidade, a indiferença religiosa, o individualismo, o sensualismo, o relativismo, que invadiram o século XXI propondo uma forma de ver o mundo e até de relacionar-se com Deus, em muitos pontos, oposta às virtudes de Maria: sua fé, esperança,caridade, fidelidade, lealdade, modéstia, castidade, pureza, maternidade universal, cuidado com o homem, anúncio do Evangelho, amor à verdade, total e confiante abandono em Deus. O resultado é que não somente nós, cinquentonas, mas também muitas das mulheres mais novas que nós, podemos ter perdido o referencial de Maria, capaz de nos salvar em todas as tempestades da história.

Você, mulher, quer ser como Maria? Para isso, é preciso conhecer a alma de Maria, deixar de fora o acidental, centrar-se no essencial, viver com ela, nela, por ela, para ela. Descobrir o segredo da alma de Maria. O amor infantil à Mamãe do Céu, o ardor adolescente com relação à Mãe de Jesus não precisam morrer. Apenas amadurecer na busca honesta da verdade e do relacionamento pessoal e vivo, atual, real, com Maria. Basta pedir ao Espírito Santo: “Santo Espírito de Deus, dá-me conhecer e amar Maria, minha Senhora, como a Trindade a conhece e ama”.

Em minha vida, Deus respondeu a esta oração quando a fiz pela primeira vez, nos anos 80, a bordo de um avião em plena madrugada. Esta resposta vem sendo alimentada pelo Segredo da Verdadeira Devoção à Virgem Maria, ensinada por São Luis Maria Grignion de Montfort. Envergonha-me dizê-lo, pois sei que alguns me conhecem bem e vêem que estou muito longe de viver este segredo. No entanto, vale a pena me expor a este ridículo por amor a Maria (a culpa de minha infidelidade é minha, não dela!), por amor a você e à humanidade do nosso tempo, que pode também encontrar o caminho para conhecer e viver o segredo de Maria e ser Mulher, Mãe, Irmã, Esposa, como ela e não como os falsos modelos que nosso século nos oferece.

Santo Espírito de Deus, dá-nos conhecer e amar Maria, Nossa Senhora, como a Trindade a conhece e ama!

Maria Emmir Oquendo Nogueira

em “Entrelinhas” da Revista Shalom Maná (edição março de 2008)

TT @emmiroquendo
Facebook/ mariaemmirnogueira
Coluna da Emmir – www.comshalom.org

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