12/05/2015

A nova solidariedade

por Dom Walmor Oliveira de Azevedo / Shalom

A nova solidariedade é princípio acenado pelo Papa João Paulo II na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz em 1990

A nova solidariedade é princípio acenado pelo Papa João Paulo II na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz em 1990. O Papa Emérito Bento XVI falava da solidariedade global em 2009, por ocasião da celebração dessa mesma data. A solidariedade, nova e global, é um valor indispensável e insubstituível para avançar em projetos novos que tutelem a criação e garantam conquistas adequadas no âmbito do desenvolvimento integral. É preciso insistir e investir na formação da consciência social e política ancorada no princípio da solidariedade. Não bastam simplesmente as garantias democráticas, advindas das abordagens e impostações ideológicas. A Doutrina Social da Igreja assinala que a solidariedade é que confere particular relevo à intrínseca sociabilidade da pessoa humana, à igualdade de todos em direitos e dignidade. Essa é a direção que pode assegurar uma possível e necessária unidade entre os povos. Os caminhos apropriados para essa solidariedade estão bem configurados e facilitados no contexto das conquistas contemporâneas.

Os meios de comunicação, por exemplo, no âmbito da telemática e dos progressos da informática, além do crescente volume de intercâmbios comerciais, mostram o quanto tecnicamente é possível estabelecer relações entre as pessoas, ainda quando situadas muito distantes umas das outras. É um fenômeno sem igual desde o começo da humanidade. Contudo, essas facilidades e tudo que as caracteriza, estampa um mundo desigual – marcado por variadas formas de exploração, corrupção e opressão – com incidências muito determinantes na vida dos Estados. Esse processo de interdependência, cada vez mais acelerado, ocorre entre pessoas e nações. Nesse caso, especialmente, é preciso um suporte e empenho intensos no plano ético-social. Do contrário, não se dará conta de superar a situação de injustiça nas suas dimensões planetárias, com repercussões nefastas no conjunto da humanidade.

Essas relações de interdependência devem ser transformadas em formas de solidariedade de caráter ético-social, enquanto exigência moral inerente a todas as relações humanas. A Doutrina Social da Igreja sublinha que esse caráter tem dois importantes aspectos complementares: o princípio social e o da virtude moral. Assim, a solidariedade deve ser tomada como princípio social ordenador das instituições, possibilitando a superação das estruturas de exclusão e exploração. Isto se efetivará com a inteligência na modificação de leis, ordenamentos variados e, particularmente, nas perversas regras do mercado.

Como virtude moral, a solidariedade faz brotar no coração humano o indispensável sentimento de compaixão que se traduz na determinação de empenhar-se pelo bem comum, mantendo acesa a chama da consciência que atiça o sentido de responsabilidade pelo bem de todos, especialmente enquanto compromisso com os mais pobres e sofredores. Quando, pois, se aborda o sentido e alcance do bem comum, compromisso central de cartas magnas e de ordenamentos nas sociedades, é preciso estar atento para o quanto esse valor está próximo da solidariedade. Dissociado desse sentimento, o sentido do bem comum corre sérios riscos de deturpação, indiferença e desrespeito.

O princípio da solidariedade implica, recorda a Doutrina Social da Igreja, o cultivo, por parte dos homens de nosso tempo, de uma maior consciência do débito que têm para com a sociedade na qual estão inseridos. Todos são devedores daquelas condições que possibilitam a existência humana de modo digno e íntegro. Essa dívida tem que ser honrada com muitas ações no agir social e político. É uma convicção fundamental do pensamento social da Igreja Católica que o desenvolvimento integral do homem não pode realizar-se sem o desenvolvimento solidário da humanidade.

É preciso encorajar as pesquisas para explorar potencialidades que permitam melhores condições do uso do meio ambiente; cuidar do sistema hidrogeológico global, da água, com sérios propósitos de reconquistar estabilidade para superação das alterações climáticas. Não são dispensáveis as urgências de políticas idôneas na gestão de florestas, tratamento do lixo, na luta contra a pobreza. Esses indicadores de caráter sistêmico não dispensam condutas individuais, articuladas na vida comunitária e grupal, quanto à urgente necessidade de sair da lógica de mero consumo para promover formas que respeitem a ordem da criação e sejam satisfeitas as necessidades primárias de todos. A hora é de nova solidariedade.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

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