09/08/2020

A dor e a alegria de ser pai

por Daniel Rubens Santiago

Senti certa dificuldade inicial em escrever alguma coisa que servisse de reflexão para o dia
dos pais. Fosse o dia das mães talvez saísse mais fácil. Afinal, “mãe” parece estar mais perto de nós,
mais ligada, somos mais afetados emocionalmente pela maternidade. Não à toa o profeta Isaías
comparou o amor de Deus a um amor de mãe: “Por acaso uma mulher se esquecerá da sua
criancinha de peito?” (Is 49,15).

Senti certa dificuldade inicial em escrever alguma coisa que servisse de reflexão para o dia
dos pais. Fosse o dia das mães talvez saísse mais fácil. Afinal, “mãe” parece estar mais perto de nós,
mais ligada, somos mais afetados emocionalmente pela maternidade. Não à toa o profeta Isaías
comparou o amor de Deus a um amor de mãe: “Por acaso uma mulher se esquecerá da sua
criancinha de peito?” (Is 49,15). Deus nos ama com um amor materno! A própria sabedoria popular
expressa essa ligação tão intimamente estreita de forma coloquial: “Mãe é mãe!” Outra forma
muito comum, nesse caso para se referir a paternidade, não chega aos pés da ternura expressa para
com as mães. Dos pais se diz: “Pai é o que cria!” É inegável o lugar privilegiado da maternidade!

E que assim seja! Não se pode negar a ligação literalmente umbilical de todos nós com
nossas mães. Há algo muito forte nessa ligação. Desde o parto, onde o pai, ainda que seja o pai mais
presente e até exerça naquele momento algum cuidado, vai ser, quando muito, um espectador ou
colaborador privilegiado. A profusão de dor e alegria características daquele momento nenhum pai
há de experienciar. Pronto, já estou eu me perdendo a falar da maternidade.

Mas antes de depor contra, esse reconhecimento do lugar materno é fundamental para a
percepção do singular valor da paternidade. Numa sociedade que insiste em suprimir as diferenças e
onde grupos procuram se afirmar pondo-se em oposição a outros, há que se reconhecer e se alegrar
com as diferenças. Sob o olhar da fé as diferenças são a possibilidade do companheirismo e da
complementaridade, torna-se o espaço onde se desenvolve com mais plenitude o amor. Se nenhum
pai há de experienciar essa dimensão específica da maternidade cumpre encontrar o lugar, as dores,
e as alegrias de ser pai. Há um lugar específico para o pai, que não o materno.

Se se pode dizer que Deus nos ama com um amor materno, é propriamente como “Pai” que
o rosto de Deus é revelado a nós por Cristo: Deus é Pai. Vem ao meu coração de forma particular
dois momentos marcantes da paixão de Jesus: primeiro no Getsemani, quando exclama: “Meu pai,
se é possível, que passe de mim este cálice” (Mt 26,11); depois, no alto da cruz : “Deus meu, Deus
meu, porque me abandonaste?” (Lc 27, 46).

Penso que essas duas palavras podem elucidar um pouco acerca do lugar específico da
paternidade na família cristã, pelo menos na perspectiva da missão. E é bom que estejamos
acompanhados da cruz. No Getsemani, o Pai que ouve a oração do Filho, não pode poupar-Lhe a
dor… silencia. Quanta angústia! O grito do alto da cruz não pode ser respondido. O Pai permace em
silêncio, ainda que tomado pela dor do Filho.

O amor paterno é diferente do amor de mãe. E tem que sê-lo. É claro que no cuidado dos
filhos, o casal, tanto homem como mulher, têm que se equilibrar entre a firmeza e a doçura, entre a
correção e a compaixão, mas, diga-se de forma clara, é a figura paterna que melhor representa o
“não” ou o “silêncio” aos reclamos dos filhos. É o pai quem deve, particularmente, mostrar o aspecto “condicional” do amor, a dureza da realidade que nega desejos, associando-se
inevitavelmente a uma ideia de frustração, tão fundamental a um crescimento psicológico saudável.

Pelo que foi dito e ainda que pareça duro, cumpre dizer que o pai não deve ansiar pelo afeto
e pelo carinho dos seus filhos. Essa é a sua cruz. Essa é a sua dor. Talvez por isso seja mais fácil
falar do amor de mãe. Impossível não se recordar de José. É a ele que quero me dirigir finalmente e
suplicar que, por sua intercessão, nós pais aceitemos e assumamos com alegria de coração a missão
que Deus nos confiou, no silêncio e na humildade. Certos de que receberemos do Pai a recompensa
por termos feito frutificar os talentos que Ele nos confiou.

Que Deus os abençoe e Maria os guarde!

Daniel Rubens é casado, pais de três filhos, Psicólogo e Amigo da Camunidade Mariana Boa
Semente.

1 Comentário
  1. Mayse Soares de Almeida disse:

    Hoje a humanidade grita a necessidade de pai presente na família. Vc meu irmão Daniel Rubens é desses pais que sofre no silêncio e na dor.Que medita a sabedoria de educar a exemplo do Pai do céu e de São José.Obrigada pelo escrito.Feliz dia dos pais.

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