27/03/2018

Com Judas ou com Pedro?

Judas vendeu Jesus por trinta denários, e quem pode dizer que não o traímos às vezes até por muito menos? Traições, certo, menos trágicas que a sua, mas agravadas pelo fato de que nós sabemos, melhor que Judas, quem é Jesus.

O Domingo de Ramos é a única ocasião, em todo o ano, em que se escuta por inteiro o relato evangélico da Paixão. O que mais impressiona, lendo a paixão segundo Marcos, é a relevância que se dá à traição de Pedro. Primeiro é anunciada por Jesus na Última Ceia; depois se descreve em todo seu humilhante desenvolvimento.

Esta insistência é significativa, porque Marcos era uma espécie de secretário de Pedro e escreveu seu Evangelho unindo as recordações e as informações que lhe chegavam precisamente dele. Foi, portanto, o próprio Pedro quem divulgou a história de sua traição. Fez uma espécie de confissão pública. Na alegria do perdão encontrado, a Pedro não importou nada seu bom nome e sua reputação como líder dos apóstolos. Quis que nenhum dos que posteriormente caíssem como ele ficasse desesperado.

É necessário ler a história da negação de Pedro paralelamente à da traição de Judas. Também esta é pré-anunciada por Cristo no cenáculo, depois consumada no Horto das Oliveiras. De Pedro lê-se que Jesus voltou-se e “olhou” para ele (Lc 22, 61); com Judas fez mais ainda: beijou-o. Mas o resultado foi bem diferente. Pedro, “saindo, rompeu a chorar amargamente”; Judas, saindo, foi enforcar-se.

Estas duas históricas não estão fechadas; prosseguem, afetam-nos de perto. Quantas vezes temos de dizer que fizemos como Pedro! Nós nos vimos na situação de dar testemunho de nossas convicções cristãs e preferimos nos fechar para não correr perigos, para não nos expor. Dissemos, com os fatos ou com nosso silêncio: “Não conheço esse Jesus de quem vós falais”.

Igualmente a história de Judas, pensando bem, não nos é alheia. O padre Primo Mazzolari teve uma pregação famosa uma Sexta-Feira Santa sobre “nosso irmão Judas”, fazendo ver como cada um de nós poderia ter estado em seu lugar. Judas vendeu Jesus por trinta denários, e quem pode dizer que não o traímos às vezes até por muito menos? Traições, certo, menos trágicas que a sua, mas agravadas pelo fato de que nós sabemos, melhor que Judas, quem é Jesus.

Precisamente porque as duas histórias afetam-nos de perto, devemos ver o que marca a diferença entre uma e outra: por que as duas histórias, de Pedro e de Judas, acabam de modo tão diferente. Pedro arrependeu-se do que havia feito, mas Judas também teve remorsos, tanto que gritou: “Traí sangue inocente!”, e devolveu os trinta denários. Onde está então a diferença? Só em uma coisa: Pedro teve confiança na misericórdia de Cristo, Judas não!

No Calvário, de novo, ocorre o mesmo. Os dois ladrões pecaram igualmente e estão manchados de crimes. Mas um maldiz, insulta e morre desesperado; o outro grita: “Jesus, lembra-te de mim quando estiveres em teu reino”, e se Lhe ouve responder: “Eu te asseguro: hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 43).

Viver a Páscoa significa viver uma experiência pessoal da misericórdia de Deus em Cristo. Uma vez uma criança, à qual se lhe havia relatado a história de Judas, disse com o candor e a sabedoria das crianças: “Judas equivocou-se de árvore para enforcar-se: elegeu uma figueira”. “E o que deveria ter elegido?”, perguntou-lhe surpresa a catequista. “Devia ter-se colocado no colo de Jesus!”. Tinha razão: se tivesse se colocado no colo de Jesus para pedir-lhe perdão, hoje seria honrado como é São Pedro.

Conhecemos o antigo “preceito” da Igreja: “Confessar-se uma vez ao ano e comungar ao menos na Páscoa”. Mais que uma obrigação, é um dom, um oferecimento: é aí onde a nós é oferecida a ocasião para nos “colocarmos no colo” de Jesus

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