28/04/2020

Sentido teológico da Celebração da Palavra de Deus

por Diácono Durval Filho

A variedade de ministérios e serviços na celebração é constituída exteriormente pela distinção das vestes, que são sinais particulares da função própria de cada ministro. A disparidade de cores tem por intenção demonstrar de modo mais claro, o caráter dos ministérios da fé que se celebram e o sentido da dinâmica da vida cristã ao longo do ano litúrgico.

Na atividade litúrgica encontramos diversas maneiras de celebração, dentre elas é aconselhada a Celebração da Palavra de Deus que fecunda a fé e a comunhão e fortalece o compromisso do povo de Deus.

A ausência de ministros ordenados despertou a consciência e a seriedade da Celebração da Palavra, com seu ponto máximo na Eucaristia. Para a presidência da celebração o ministro_ que tanto pode ser um leigo ou um diácono_precisa ter a formação adequada para tal fim, e acima de tudo um amor pelo ministério da Palavra.

A Celebração da Palavra é o lugar por excelência onde as comunidades, muitas delas carentes de todo serviço pastoral ou ministerial, encontram o alimento da vida cristã. É através delas que o povo de Deus celebram e vivem o mistério salvífico de Cristo, tomando parte, traduzindo e multiplicando os tesouros da única Palavra de Deus.

A sagrada Liturgia não esgota toda a ação da Igreja; de fato, antes de os homens terem acesso à Liturgia, precisam de ouvir o apelo à fé e à conversão:  […] É por esse motivo que a Igreja anuncia a mensagem de salvação aos não crentes, para que todos os homens conheçam o único Deus verdadeiro e o seu enviado, Jesus Cristo, e se convertam dos seus caminhos pela penitencia. Quanto aos crentes, ela deve pregar-lhes constantemente a fé e a penitencia, prepara-los para os Sacramentos, ensiná-los a observar tudo o que Cristo mandou, e estimulá-los para todas as obras de caridade, de piedade e apostolado, mediante as quais se torne manifesto que os cristãos, embora não sejam deste mundo, são luz do mundo e glorificam o Pai diante dos homens. (SC 9).

Hoje, cada vez mais a Palavra de Deus está presente na vida das comunidades eclesiais. Deus que se comunica com seus filhos através do Espírito Santo, que se torna viva e eficaz através da Graça de Deus sobre àqueles que se deixam envolver e ser conduzidos pelo Espírito da Vida.

Assim como em toda a história do povo de Deus, as comunidades sentem o mesmo Espírito que se manifesta o Amor de Deus, que intercede por suas necessidades, mas que também age, cria e recria os acontecimentos mais simples. E é na Celebração da Palavra que todos se reconhecem como irmãos, louvam e unem-se para enxergar o dedo de Deus em favor de todos.

Cristo é o centro da Sagrada Escritura e consequentemente da Celebração Litúrgica, Ele é a Palavra Encarnada e o canal do amor com que Deus salvou seu povo, presente divina entre nós. Cristo continua a falar a seu povo como profeta e sacerdote no anúncio da Palavra proferida pelos ministros e por todos aqueles que se dispõem a celebrar ativamente da Celebração. Os fieis escutam a Palavra, se reconhecem como alvos dessa Salvação manifestada em Jesus que se plenifica no mistério pascal.

“A Igreja de Cristo, desde o dia de Pentecostes, após a descida do Espírito Santo, sempre se reuniu fielmente para celebrar o mistério pascal, no dia que foi chamado “domingo”, em memória da ressurreição do Senhor. Na assembleia dominical a Igreja lê aquilo que em todas as Escrituras se refere a Cristo e celebra a Eucaristia como memorial da morte e ressurreição do Senhor, até que Ele venha”. (Diretório para celebrações dominicais na ausência de presbíteros, 1)

A oração de louvor a Deus, a ação de graças e de petições que ela provoca, é ação do Espírito. “E da mesma maneira o Espírito ajuda as nossas fraqueza; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Rm 8,26). O Espírito que agiu na vida de Cristo está também atualizando-se na vida dos que seguem o Ressuscitado que passou pela Cruz.

A Liturgia é a ação comunitária da Igreja por excelência, o novo povo de Deus que está a peregrinar entre as alegrias, tristezas e esperanças, unida aos homens e mulheres do nosso tempo, principalmente aos pobres. A Igreja se desenvolve e se edifica ouvindo a palavra de Deus, e continua na liturgia o louvor de Jesus Cristo que como em Emaús pede aos discípulos para aprofundar o conjunto das Escrituras. O cuidado pastoral também merece as celebrações ecumênicas da Palavra de Deus, nesse tipo de celebração a preferência incide sobre o espirito de unidade à luz da Palavra de Deus, exclusivamente.

A pessoa humana manifesta sua relação com Deus por meio de sinais e objetos. A Celebração da Palavra, como toda celebração litúrgica, se realiza através de sinais visíveis e sensíveis. O maior sinal celebrativo na liturgia é própria Palavra, não qualquer palavra, imprescindivelmente a Palavra de Deus, porque possui em si a realidade da salvação que é manifestada ao mundo.

“Para assegurar esta eficácia plena, é necessário, porém, que os fiéis celebrem a Liturgia com retidão de espírito, unam a sua mente às palavras que pronunciam, cooperem com a graça de Deus para não a receberem em vão. Por conseguinte, devem os pastores de almas velar para que, na ação litúrgica, não só se observem as leis de uma válida e lícita celebração, mas também que os fiéis nela participem consciente, ativa e frutuosamente”. (SC 11)

O anúncio litúrgico e eclesial da Palavra é um serviço antes de tudo, e uma realidade ministerial. No momento da celebração, cada um tem o direito e o dever de colaborar com a participação, cada um a seu modo, segundo a diversidade de funções e de ministérios.

Deus, ao comunicar a sua Palavra, sempre aguarda uma resposta que consiste em escutar e adorar em Espírito e em verdade. “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração”. (Hb 4,12).

As celebrações da Palavra operam e dão frutos à medida em que há uma resposta de vida e fé, de esperança e de caridade da parte daqueles que escutam. Apoiadas na palavra de Deus, as pessoas se tornam mais solidárias e fazem das ocasiões celebrativas um encontro festivo e comprometido com o próprio Deus da vida.

Ao ouvir a Palavra de Deus e ao celebrar a Eucaristia como memorial da morte e ressurreição de Jesus Cristo, a Igreja se desenvolve e se consolida, na espera do Grande Dia que não passará. A Igreja é alimentada pelo Pão da vida na mesa da Palavra e do Corpo e Sangue de Cristo, sendo assim, todas as comunidades devem celebrar a Palavra como centro da sua fé, sendo possível deve celebrar também a Eucaristia, em especial no Domingo, Dia do Senhor.

“A celebração do domingo é o cumprimento da prescrição moral, naturalmente inscrita no coração do homem, de ‘prestar a Deus um culto exterior, visível, público e regular, sob o signo da sua bondade universal para com os homens. O culto dominical cumpre o preceito moral da Antiga Aliança, cujo ritmo e espirito retoma, ao celebrar em cada semana o Criador e o Redentor do seu povo”. (CIC 2176)

 

O domingo é uma criação de origem especificamente cristã, iniciando com a reunião dos primeiros cristãos para celebrar a memória da morte e ressureição de Cristo que se deu no primeiro dia da semana. Esse é também o dia da Igreja, dia da comunidade reunida em nome do Senhor. O domingo era tão expressivo para os primeiros cristãos, que eles se sentiam legitimamente convidados a participar da reunião comunitária. Além de ser o Dia do Senhor e da comunidade, é também o dia de grande alegria e de descanso do trabalho, anúncio de liberdade e de convivência fraterna.

Os fiéis tem o direito de serem formados acerca do sentido da celebração dominical. Onde não for possível a celebração eucarística, permitam às comunidades eclesiais a Celebração da Palavra. As assembleias dominicais da Palavra de Deus sejam acompanhadas de uma oportuna catequese aos fiéis sobre o seu significado, não camuflando questões sérias, somente por falta de recursos ou pessoal. No Ano Litúrgico, além do domingo existem outras ocasiões importantes na vida que precisam ser celebradas como o Natal, Pentecostes, Corpos Christi, entre outros que são chamados de solenidades.

“No ano litúrgico, além do domingo, existem outros momentos importantes na vida da Igreja, que precisam ser celebrados. Neles revive-se o mistério pascal. São as solenidades relacionadas a Jesus, como o dia do Natal e do Corpo e Sangue de Cristo e as festas da Virgem Maria, como o dia da Imaculada Conceição, Santa Mãe de Deus e outros acontecimentos importantes da comunidade e da sociedade”. (CNBB 52, 41)

Uma das expressões da Igreja reunida, é a Celebração da Palavra, que prevê a existência de uma equipe de celebração em que a organize, anime, una e integre os diversos dons e serviços para que tudo concorra para o maior louvor a Deus e a santificação dos que dela participam.

Na preparação da Celebração deve se levar em vista alguns elementos como: o tempo litúrgico, a realidade atual da comunidade com seus problemas e conquistas, redigir os comentários, as orações, organizar os cantos e os cantores, dispor as possíveis expressões e gestos simbólicos que a vida da comunidade e a Palavra de Deus sugerem.

A Igreja, povo de Deus reunido, necessita de um espaço para reunir-se, dialogar, celebrar e fazer suas petições em comum aos momentos da sua vida ordinária. É preciso observar o cuidado e o zelo com a arrumação e ornamentação do espaço celebrativo, mesmo que com adereços simples, porém dignos do lugar: Casa de Deus no meio do povo.

“A liturgia, é verdade, não esgota toda a atividade da Igreja, não obstante, o maior cuidado deve ser tomado quanto à reta conexão entre a atividade pastoral e a liturgia, e quanto à realização de uma liturgia pastoral, de modo que não seja algo à parte e isolado, mas estreitamente unido aos outros trabalhos pastorais. É especialmente necessária uma intima e viva união entre liturgia, catequese, formação religiosa e pregação.” (Inter Oecumenici, 7)

A Palavra demanda um lugar próprio para que seja proclamada de forma ousada e ao mesmo tempo audível e visível à assembleia. Os diversos livros litúrgicos devem ser cuidados com zelo e respeito, haja vista, neles está a Palavra de Deus e as orações proferidas pela Igreja.

A variedade de ministérios e serviços na celebração é constituída exteriormente pela distinção das vestes, que são sinais particulares da função própria de cada ministro. A disparidade de cores tem por intenção demonstrar de modo mais claro, o caráter dos ministérios da fé que se celebram e o sentido da dinâmica da vida cristã ao longo do ano litúrgico.

Deus te abençoe e Maria te guarde!

Diácono Durval Filho

Consagrado da dimensão de Aliança da Comunidade Mariana Boa Semente

Missão Banabuiú

Referências:

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 3ª. ed. Petrópolis: Vozes; São Paulo: Paulinas, Loyola, Ave-Maria, 1993.

SACROSSANTUM CONCILIUM. Documentos do Concílio Ecumenico Vaticano II. Paullus: São Paulo, 1997.

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