15/02/2016

O BELO DA QUARESMA:

por José Carlos Noviço da Comunidade Mariana Boa Semente

Amor em demasia de Cristo pela Humanidade. O período quaresmal se desdobra desde a Quarta feira de Cinzas até a celebração da Ceia do Senhor, na Quinta feira Santa. A Igreja ao celebrar este tempo místico, que recorda-nos os 40 dias que o Senhor Jesus Cristo passou no deserto e os sofrimentos que ele suportou […]

Amor em demasia de Cristo pela Humanidade.

O período quaresmal se desdobra desde a Quarta feira de Cinzas até a celebração da Ceia do Senhor, na Quinta feira Santa. A Igreja ao celebrar este tempo místico, que recorda-nos os 40 dias que o Senhor Jesus Cristo passou no deserto e os sofrimentos que ele suportou na cruz, tem como objetivo preparar os seus filhos e filhas para a celebração da Páscoa. Na noite da Quinta-feira Santa inicia-se o Tríduo Pascal, que é o essência da fé cristã, pois aí celebra-se a paixão, morte e ressurreição de Jesus. Dom Messias dos Reis Silveira ensina-nos que “este tempo quaresmal deve ser vivido como a travessia de um túnel sombrio, porém com a esperança de que no final haverá o encontro com uma grande luz, que é Cristo ressuscitado dos mortos.” A Quaresma é a manifestação do Amor em excesso de Cristo por nós, até a morte na cruz. Jesus se fez pecador para nossa dignificação, para nossa salvação, não temos como duvidar do amor de Deus. A quaresma é um itinerário, um caminho até o nosso interior. A beleza da quaresma está nesse caminho que nos instrui a sair de si e aproximar-se de Deus e sair de si e ir ao encontro do irmão, Dom Orlando Brandes, melhor classifica como êxtase(aproximar-se de Deus) e êxodo(ir em direção do irmão), à partir de atitudes de filhos de Deus e de ações fraternas com o irmão, por meio dos pilares que nos é proposto: a oração, o jejum, a esmola -e aqui no brasil, desde 1964- acrescenta-se a campanha da fraternidade, que tem como tema atual: “Casa comum, nossa responsabilidade”. Nos é ofertado um tempo de crescimento espiritual, nos é oferecido uma chance de reencantamento por Jesus Cristo e de aprofundamento do discipulado. Este tempo litúrgico da igreja se inicia com a quarta-feira de cinza, A data é um símbolo do dever da conversão e da mudança de vida, para recordar a passageira fragilidade da vida humana, sujeita à morte, é o primeiro dos 40 dias (Quaresma) entre essa terça-feira e a sexta-feira (Santa) anterior ao domingo de Páscoa. Uma curiosidade é que as cinzas utilizadas neste ritual provêm da queima dos ramos abençoados no Domingo de Ramos do ano anterior. A estas cinzas mistura-se água benta. De acordo com a tradição, o celebrante desta cerimônia utiliza essas cinzas úmidas para sinalizar uma cruz

na fronte de cada fiel, proferindo a frase “Lembra-te que és pó e que ao pó voltarás” (Gn 3, 19) ou a frase “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1.15). A liturgia da Quarta-Feira de Cinzas indica assim na conversão do coração a Deus a dimensão fundamental do tempo quaresmal. Esta é a chamada muito sugestiva que nos vem do tradicional rito da imposição das cinzas, que daqui a pouco renovaremos. Rito que assume um dúplice significado: o primeiro relativo à mudança interior, à conversão e à penitência, enquanto o segundo recorda a precariedade da condição humana, como é fácil compreender das duas fórmulas diversas que acompanham o gesto. Não hesitemos em reencontrar a amizade de Deus perdida com o pecado; encontrando o Senhor experimentamos a alegria do seu perdão. E assim, quase respondendo às palavras do profeta, fizemos nossa a invocação no Salmo 50: “Perdoai-nos Senhor, porque pecamos”. Imploremos com esse Salmo penitencial, à misericórdia divina; peçamos ao Senhor que o poder do seu amor nos volte a dar a alegria de sermos salvos. A Oração nos lembra que há uma grande proximidade entre Deus e a humanidade, que é possível falar com Deus, ouvi-lo, sentir sua ternura. Santa Tereza discorre que a Oração é um trato de Amizade com Deus. O Jejum e a Abstinência são práticas muito comuns no período da Quaresma (orientadas pela igreja), mas isso não quer dizer que não se possa fazer durante os demais tempos litúrgicos. De acordo com o Código de Direito Canônico – livro das leis que orienta a Igreja Católica – o jejum é a “forma de penitência que consiste na privação de alimentos”. A respeito disso a orientação tradicional é que se faça apenas uma refeição completa durante o dia e, caso haja necessidade, pode-se tomar duas outras pequenas refeições, que não sejam iguais em quantidade à habitual. Pelas orientações da Igreja, estão obrigados ao jejum os que tiverem completado 18 anos até os 59 completos. Os outros podem fazer, mas sem obrigação. Grávidas e doentes estão dispensados do jejum, bem como aqueles que desenvolvem árduo trabalho braçal ou intelectual no dia do jejum. Segundo padre Roger Araújo, sacerdote da Comunidade Canção Nova, um cristão que jejua dá primazia aos valores espirituais. “É uma forma de oração por excelência, considerando que Jesus diz: ‘certos demônios somente são expulsos pela oração e o jejum’ (Mt 17, 20)”.

Sobre a abstinência, o Direito Canônico diz que “consiste na escolha de uma alimentação simples e pobre”. Segundo o documento, a tradição da Igreja indica a abstenção de carne, pelo menos nas sextas-feiras da Quaresma. “Mas poderá ser substituída pela privação de outros alimentos e bebidas, sobretudo os mais requintados e dispendiosos [caros] ou da especial preferência de cada um”, orienta o documento. A obrigação da abstinência começa aos 14 anos e se prolonga por toda a vida. Grávidas que necessitem de maior nutrição e doentes que, por conselho médico, precisam comer carne, estão dispensados da abstinência, bem como os pobres que recebem carne por esmola. Conforme as orientações da Igreja, o jejum e a abstinência são obrigatórios na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa. Segundo Padre Roger a opção pela abstinência de carne é devido ao seu consumo comum pela maioria das pessoas. “Espiritualmente, a abstinência de carne é uma forma de união a Cristo que vive sua Paixão. Pode ser também uma maneira mística de olhar a carne de Cristo pregada na Cruz e Seu Sangue derramado pela humanidade”.

Ainda sobre o jejum e abstinência, a Comunidade Mariana Boa Semente recomenda a seus membros sempre fazer um “algo à mais” durante o período quaresmal. Ele consiste em incluir um dia a mais na semana reservado ao jejum, a segunda-feira. Assim fica disposto: As práticas da quarta-feira veem para a segunda-feira, as da sexta-feira veem para a quarta-feira e a sexta-feira, para o jejum de líquidos ou a pão e água. O jejum de líquidos é caracterizado por realizar uma refeição completa no período da manhã e durante todo o dia consumir água ou suco (não pastoso) até as 18h. No jejum a pão e água, realiza-se uma refeição completa no período da manhã e até o dia seguinte alimenta-se de pão quando sentir fome e bebe-se água quando sentir sede. Evite comer pão e água juntos, pois pode causar náuseas e mal estar. Para o Papa Emérito Bento XVI, “jejuar significa aceitar um aspecto essencial da vida cristã. É necessário redescobrir também o aspecto corporal da fé, a abstinência do alimento é um desses aspectos” (Joseph Ratzinger, no livro A Fé em crise?) (Apost. Amigos de Deus – RCC/PR).

A Esmola é outro gesto santificador no tempo quaresmal. Não se trata de dar algo para desencargo da consciência, mas saber que na pessoa do irmão necessitado, que estende a mão, está presente o Cristo e o que é feito ao menor dos irmãos se faz ao Cristo mesmo (Cf Mt 25,40). Pela esmola dada com amor o cristão se declara livre da escravidão dos bens deste mundo e expressa a sua caridade. É um gesto que faz crescer a espiritualidade. A Campanha da Fraternidade nesse ano de 2016, o tema é “Casa comum, nossa responsabilidade” e o lema bíblico apoia-se em Amós 5,24 que diz: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” é muito pertinente, nos faz lembrar o povo de Israel no deserto e os cuidados que deveriam ter com o meio, seja o ambiental, o social e o religioso. Nós cristãos somos chamados a cuidar uns dos outros e da nossa casa comum, esse cuidar implica em aproximarmos ainda mais uns dos outros e do meio em que vivemos e isto nos leva a discutir criticamente sobre nossas relações sociais, políticas e ambientais sob o viés do olhar de Cristo e o anúncio da Boa Nova que é vida em abundância (Jo 10,10), somos chamados a responder perante o Pai sobre nossas ações sobre a criação. A quaresma equivale à experiência do povo de Deus no deserto, rumo à libertação. Deus nos atrai ao deserto para falar ao nosso coração. É necessário então parar, silenciar, pacificar-se. No deserto caem os ídolos e acontece o encontro com o Deus vivo. Passando por tentações e tribulações, noites escuras e purificações próprias do deserto, chegaremos ao dia ensolarado da ressurreição, da vitória da vida sobre a morte. Esses quarenta dias nos ajuda a descer com Jesus ao vale da humildade e aprender a conhecer a nós mesmos, aos outros e a Deus. O sangue, as chagas, o coração transpassado do Senhor nos tornam embriagados de amor por Deus e pelos irmãos. “A quaresma é remédio para nossas feridas. No sangue do Cordeiro somos curados. É também uma escola de amor onde aprendemos a paciência, a obediência, a humildade, o desapego. Não passemos pela quaresma, entremos nela, deixando-nos transformar pelo amor paciente, compassivo, e clemente de Deus, manifestado em Jesus. Ele é a beleza que salva.” (Dom Orlando Brandes) Padre Paulo Ricardo sabiamente diz que se os homens e os anjos

tivessem sido criados sem a graça de Deus, seriam apenas servos. Mas, através do dom da graça, os servos tornam-se amigos de Deus. A criatura é elevada a um nível infinitamente acima de sua própria natureza. Essa é a parte positiva e mais importante da conversão, o lindo trato de amizade com o que nos salvou e nos salva. Em nós age uma realidade muito mais poderosa do que qualquer tentativa do demônio de afastar-nos de Deus. É importante ter isso em mente antes de refletirmos sobre a realidade da tentação, se não fosse assim, poderia parecer injusto que Deus nos colocasse numa luta espiritual contra seres muito mais poderosos do que nós: os anjos decaídos. Por isto Santo Tomás nos recorda: “Deve-se dizer que para que a condição da luta não seja desigual, o homem recebe em compensação principalmente o auxílio da graça divina, e em segundo lugar a graça dos anjos” (Suma Teológica). “Finalmente, irmãos, fortalecei-vos no Senhor, pelo seu soberano poder. Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do demônio. Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares. Tomai, por tanto, a armadura de Deus, para que possais resistir nos dias maus e manter-vos inabaláveis no cumprimento do vosso dever. Ficai alerta, à cintura cingidos com a verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça, e os pés calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da paz. Sobretudo, embraçai o escudo da fé, com que possais apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai, enfim, o capacete da salvação e a espada do Espírito, isto é, a palavra de Deus” (Ef 6, 10-17). Com desejo de conversão, de mudança de rota, de abandono das nossas vontades, de luta contra o inimigo, na certeza da conquista, da vitória após a morte, iniciamos o tempo favorável da Quaresma. Enterrando as nossos iniquidades e ressuscitando com o Glorioso. Peçamos a intercessão da Virgem Maria, para que nesse tempo ela nos ensine a caminhar com Cristo para o calvário e com Ele ressuscitarmos.

Deus lhe Abençoe e Maria lhe Guarde.

Referências:

Dom Orlando Brandes. A beleza do tempo quaresmal. Artigos de Bispos (CNBB) Arcebispo de Londrina (PR). Dom Messias dos Reis Silveira. Os pilares do tempo quaresmal. Artigos de Bispos (CNBB). Bispo de Uruaçu (GO). 2015.

Suma Teológica, I, q. 114, a. 1, ad 2

Padre Paulo Ricardo discurso do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo Mateus (Mt 17, 1-9) Quaresma é tempo de conversão.

Padre Roger Araújo, site Canção Nova.

RCC. Apostila amigos de Deus. Orientação para a intimidade com o Senhor através da vivência de práticas espirituais. Paraná.

José Carlos Soares Ferreira, Missão Fortaleza,

Noviço da Comunidade Mariana Boa Semente na Dimensão de Aliança.

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