09/04/2018

Anunciação do Senhor: o Deus que nos salva se fez homem no seio da Virgem Imaculada.

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O centro dessa solenidade não é a Virgem Imaculada, mas sim o Senhor que está sendo anunciado pelo anjo àquela que acreditou.

Ave, cheia de Graça, o Senhor está contigo! As palavras iniciais colocadas nos lábios do enviado de Deus estão cheias de sentido e nos falam de Maria. Com o seu “Ave”, o anjo convida a Virgem Imaculada a participar da alegria do tempo do Messias que está chegando, ela tem papel fundamental para a vinda de Nosso Senhor. A expressão “Cheia de graça” nos mostra que ela é muito especial por Deus, é agraciada por Deus, completada por Ele, sendo mais fiel ao grego original, Deus encheu a Virgem Imaculada de graça. E como conclusão da saudação, “O Senhor está contigo”, isso aponta para a missão da Virgem Imaculada, ela terá uma missão tão exigente que o Senhor estará sempre ao seu lado dando-lhe forças.

O anúncio do Anjo marca uma nova etapa na História da Salvação, não apenas pela mensagem, mas sim pelo Sim da Nova Eva, em resposta ao não dado outrora ao plano de Deus. Segundo Neotti, “a partir daquele momento, o mistério e a missão de Cristo – Deus-homem e homem-Deus – une-se para sempre ao mistério e à missão de Maria de Nazaré” (Imaculada Conceição de Maria, p. 27). Lucas em 8,19-21 sublinha que a Mãe e os irmãos são exemplo da semente que caiu em terra boa. E como afirma Donfried: “Isso combina plenamente com a forma com que Lucas descreve a primeira resposta de Maria à palavra de Deus em 1,38: ‘eis aqui a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra’” (Maria no Novo Testamento, p. 184).

Com a solenidade da Anunciação do Senhor, temos um primeiro protagonismo da Virgem Imaculada. O evangelista Lucas a apresenta a nós como a primeira discípula. Ela aceita o convite e inicia um longo caminho de peregrinação na fé, ao responder ao apelo de Deus. Aceita a proposta do Senhor com o coração aberto, num grande gesto de generosidade e de fé. A anunciação a Maria nos lembra de que somos também agraciados por Deus, que Ele está conosco, que nos chama a uma missão e que Sua presença produz alegria em nós. A vocação de Maria é como um espelho para a vocação cristã. Olhando para ela, a gente se vê melhor, enquanto discípulos e seguidores de Jesus. Assim como ela, nós devemos assumir com fé a missão a qual somos chamados, a responder ao chamado de Deus.

Contudo, o centro dessa solenidade não é a Virgem Imaculada, mas sim o Senhor que está sendo anunciado pelo anjo àquela que acreditou. Nove meses antes do Natal (nascimento de Nosso Senhor) a Igreja nos leva a refletir sobre a encarnação do Verbo vista a consumação em Seu sacrifício redentor em obediência ao Pai (cf. Hb 10,5-10) e, sendo para nós o Redentor, ser também o primeiro a ressuscitar (I Cor 15,20). O Mistério da Encarnação tem ligação íntima com o Mistério da Redenção. O Verbo se encarnou não apenas para se fazer carne, ser homem, mas também para redimir a humanidade. A celebração se volta para essa relação com o Mistério Pascal, percebemos isso com a Oração da Coleta, Oração depois da Comunhão e a Segunda Leitura. O mais importante desta celebração é o Deus que, mais uma vez, toma a iniciativa e vem ao encontro da humanidade.

Todavia, desta certeza da Encarnação do Senhor, também nos é permitido entendermos melhor a Concepção Virginal. A sombra do Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo a cobrirá com a sua sombra. Assim, faz a analogia a outros dois fatos da ação divina. Uma faz referência ao relato da Criação (cf. Gn 1,2) e identifica o evento como sendo a Nova Criação (o Altíssimo chama o ser à existência a partir do nada e o Espírito que pairava sobre os abismos), pois Deus é o fundamento de todos os entes, e instaura a nova criação na antiga e a partir da antiga. Dessa maneira, a vinda de Cristo atinge não somente a história, como sendo um acontecimento de Deus na história humana, mas também o acontecimento tão profundo para a humanidade que alcança o fundamento do ser e provem do próprio Criador (Cf. BENTO, A filha de Sião, pag. 33).

Outro ponto deste relato é a sombra do Altíssimo que cobrirá a Virgem Imaculada. Faz referência à nuvem que cobria o Templo, anunciando a presença de Deus. Assim, temos uma característica teológica israelita do culto, a Mãe do Senhor é a tenda sagrada sobre a qual a presença oculta de Deus se torna efetiva. A Virgem Imaculada é mãe por ação divina, por querer divino, por desejo divino, não apenas para mantê-la virgem, mas também para nos servir de sinal da Nova Criação e da presença de Deus sobre o Novo Templo.

Por meio da Virgem Imaculada, o povo da promessa se torna o novo Israel, Igreja de Cristo. Na Anunciação do Senhor se cumpre a promessa feita a Israel e realiza-se a esperança das nações, pois Aquele que veio salvar a humanidade quis nascer entre eles.

Ailton Bento Araruna

Aluno do quinto semestre do Curso de Teologia no Centro Universitário Unicatólica

1 Comentário
  1. Marisy Carla disse:

    Linda palavra de fé e amor.

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